24/03/2015
às 15:34
\ Opinião
Publicado no Globo
A crise é boa. Nada melhor do que uma crise para nos dar a sensação de
que a vida muda, que a História anda, que a barra pesa. A crise nos tira o sono
e nos faz alertas. A crise nos faz importantes, nós, a opinião pública, nós, o
“povo”, nós, os ex-babacas que viviam na sombra, na modorra e que de repente
saíram batendo panelas nas ruas. Na crise no Brasil, a política fica visível
para a população. A crise nos lembra a maldição chinesa: “que você viva em
tempos interessantes” — por “tempos interessantes” se entenderia uma época de
calamidade, guerras e instabilidade. A crise é boa porque acabaram as antigas
crises cegas, radiofônicas, anos 1950. Hoje as crises são on-line, na internet,
nos celulares com todos as roubalheiras ao vivo, imediatas, na velocidade da
luz. A crise é uma aula, quase um videogame. A crise é um thriller em nossas
vidas. A crise nos permite ver a verdade. Mas como — se todos mentem o tempo
todo? A crise nos ensina a ver a verdade de cabeça para baixo, nos ensina que a
verdade é o contrário de tudo o que dizem os depoentes, testemunhas e réus. A
verdade está em tudo o que os políticos negam.
ARNALDO JABOR
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